terça-feira, 11 de junho de 2013

Sitio São Joaquim




Ele a surpreende aos prantos, dobrando roupas, organizando malas.
Sorri com carinho, pois sabe e respeita os motivos que a levam a chorar.
- até quando vai esse chororô?
e ela:
- me deixa chorar, voce sabe que dentro de alguns dias já passou...

Continua a dobrar as roupas. As limpas são colocadas na mala, algumas já usadas são postas em um saco para serem lavadas.
As roupas que as crianças despiram antes do banho também são colocadas no saco. Ela sabe que ao deposita-las no tanque, já em casa, vai sentir o cheiro do barro, a textura da terra, e ficará com saudade.

Os cobertores ficam, dobrados sobre as camas, aguardando o momento alegre e gostoso de aquecer novamente esses corpos pequenos e cansados. E também os corpos adultos nas noites geladas de Ibiuna.

Um olhar para a geladeira já limpa, desligada, num canto da cozinha. Está em compasso de espera pela nova remessa de frutas, legumes e carnes, que chegarão em meio a um turbilhão de vozes e sorrisos de crianças famintas e com sede.

O fogão a lenha, esfriando suas brasas, derradeiras brasas nessa temporada de férias, sabe que ficará gelado por um período, esperando que sua dona chegue e o abençõe com muito calor e perfumes deliciosos. Ele merece dela um afago, um passar de dedos, um sorriso.

O marido fala alto, lá de fora:

-Vamos, as crianças já estão no carro, as tralhas também...vamos pegar muito trânsito se atrasarmos!

Era tudo tão óbvio, tão igual,  sempre o mesmo ritual, quase sempre as mesmas palavras.

- vou a pé até a porteira, assim fecho o cadeado...

Ia andando, devagar atrás do carro, dizendo adeus àquele espaço tão querido. Acenando para a imensa paineira que havia plantado tão pequena.  Ao entrar no carro, o marido ria e repetia:

- até onde vai esse chororô?

Ela nem respondia, só olhava pelo espelho a sua porteira sumindo na estrada poeirenta, uma imagem embaçada pelas lágrimas.

Hoje a saudade veio me visitar,  compartilhei com vocês!


21 comentários:

  1. Olá, minha querida amiga,

    As suas memórias são lindas, você sabe mesmo contar um "causo", principalmente os que viveu.
    Esta estória me lembrou um trecho de um dos contos do livro 'O retrato na gaveta', do Otto Lara Resende, que li há muitos anos.

    Um beijo

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  2. Ivani,tu me emociona sempre. LIndo, deu pra sentir daqui a saudade que te invadiu. Lindo isso, tantas recordações, tantos momentos com o amor, com os meninos pequenos ainda... Tanta coisa enfim... Comoventes lembranças de momentos aparentemente tão corriqueiros, no entanto, tão marcantes em nossas vidas! beijos,tudo de bom,chica

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  3. E nunca mais voltou???
    Essa história é bem familiar em minha família...a despedida do lar! Mudamos eu e marido mais de 10 vezes em 14 anos de casados e meus pais são estranhos...ficam em média 3 anos em casa cidade desde que os conheço por gente! Foram tantos olhares para trás e despedidas de porteiras também que entendo bem este seu texto e história!
    Me emociona sempre Ivani!
    Beijos e um ótimo dia em sua casa!
    CamomilaRosa

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  4. As saudades são assim mesmo, chegam quando nem sequer estamos a pensar.
    Os teus textos são sempre tão "vivos" tão cheios de "cor" de "cheiro" que me deixam aqui a imaginar o local onde foram vividos..
    beijos

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  5. Pois é, sou assim apegada, não nego, não disfarço.
    Custei a deixar a casa de minha mãe, teve despedida da minha cama aos lustres e buracos do chão. E por todas as outras casas por onde passei.
    Não sou boa em dizer adeus, em não olhar para trás, não tocar, levar e relembrar cheiros, objetos, sensações, pessoas.

    Não querendo ser sentimental e filosófica demais, mas já sendo, doeu e ainda doí o adeus a casa, mas o adeus a ele foi muito pior e tantos outros adeus que sei que vc já deu, que damos sem marcar o momento, coisas nossas, épocas, sensações, tudo fica pra trás, tudo passa, de bom e de ruim (ainda bem).

    O que vale porém não é o nosso passar pelos lugares, coisas, sensações, pessoas, mas o passar delas por nós, o que fica, o que não morre, não se diz adeus, não é de se chorar, mas de sorrir e agradecer.

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  6. Obrigada por compartilhar, querida Ivani. Gostei muito de te acompanhar nesse percurso ao passado.
    Obrigada pelo teu carinho, minha amiga linda.
    Beijo

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  7. Muito pertinente o texto para o momento que estou passando...
    O chororô virá por aqui também.
    Beijinho,
    Beth

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  8. Que lindo Ivani,
    Tenho sempre este sofrimento, quando venho do sítio, é algo tão bom na chegada e tão difícil na hora de ir embora. Deixar tudo e um pouco de nós mesmos em cada vasinho na janela, no barulho da porteira, no verde, no céu, tudo parece tão mais lindo, mais simples.
    bjs. Adorei. que tenhas compartilhado.

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  9. Toinha
    Como hj é dia de Toinho, lembrei docê, por causo da pareja de nome :)

    Que ele te proteja, proteja seu lar, mantenha sempre a sua dispensa e farinheira cheias e o coração cheio pelo amor que vc teve e ainda é e sempre será seu, como vc foi dele.

    Bombas, chuvinha, bolo de fubá, carimã, aipim e um quentãozinho pra arrematar, eitá nóis!

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  10. oh tesouro viajei com você, e vi uma mulher jovem, de cabelos escuros e encaracolados, um rosto jovem e rigado de lagrimas,
    vi seus pés que insistiam em nao acelerar o passo,
    vi um sorris em meio as lagrimas,e um ultimo olhar de ternura para aquela casinha amada
    viu também estiou ficando poetisa.
    querida quando quiser me perguntar alguma coisa, nao se acanhe não rs
    pode perguntar.

    baci

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  11. Ai, ai, ai...
    Mãe, me descupe, mas esta postagem não vou conseguir comentar...

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  12. Ivani, suas partilhas sempre me abrem um sorriso. Eu também sentia essa saudade antes mesmo da partida quando vinha embora do apartamento da minha tia, na praia. Ficava sempre a vontade de voltar.
    Seu post me fez pensar o quanto nossa vida é formada por partidas, regressos e saudades. Um abraço!

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  13. Ivani, mais uma vez ri e gostei muito do teu comentário lá! Asim, cedinho, inicio o dia dando risadas,rs beijos,linda semana!chica

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  14. Ivani
    Ainda bem que podemos sentir saudades
    abrir uma torneira imaginável e chorar todas as vezes que pudermos
    Depois é só fechar!
    Ficam guardadas todas as recordações na mala com roupas, no fogão, na geladeira, no carro onde partiram
    Visíveis e guardadas. A chave é a única que pode abrir, para juntas podermos ler
    essas recordações
    beijos
    Zizi

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  15. Parceira, como vivi dividido entre duas famílias, foi difícil para mim me apegar assim a algo, portanto, se lhe disser que compreendo o que sentiu, estarei mentindo, contudo, podemos ter empatia e imaginar.
    Você consegue tornar cada escrito seu comovente e desta vez não foi diferente, comoveu a muitos pelo que percebi.
    Quanto ao que me perguntou, no momento estou cursando Ciências Biológicas, é estranho porque nunca fui um aluno exemplar em Biológicas, sempre me dei melhor nas Exatas e Humanas, mas se estamos a falar de despedidas, a decisão de desistir por hora de Direito, confesso, me doeu. Foi uma decisão difícil... Mas como lhe disse, ainda pretendo cursar, vou por enquanto no que está mais conveniente, porém, não sou de desistir do que quero.
    Obrigado pelas visitas, pelo carinho e pelo interesse parceira.
    Abraço.

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  16. Que lindo. Despedidas...dói, dói, dói. Arrasou.
    Bjs

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  17. Adorei saber de ti! Te cuida com essa coluna! O niver do Santiago é hoje,.27 mesmo! Beijos,fica bem> Acabei de voltar do cinema Minha mãe é uma Peça. Vale a pena. É a nossa cara,sr beijos,chica e vê se consegue ir ver!

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  18. Que bom te rever, querida Ivani, que bom!
    Beijo

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  19. Que lindo texto amiga!!
    Estava com saudades e achei muito engraçado seu comentário lá no blog ... rsrs, me fez sorrir ainda mais!!

    Desejo que fique boinha logo, um grande beijo pra vc!!

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  20. Que coisa linda, Ivani! Vc me emociona muito!!! Será que já estivemos juntas??? Sinto que temos almas parecidas!!!
    BJSSSS

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  21. Relembrar é viver novamente mesmo que somente no coração.
    Tão transparente essa saudade feito seda.
    Um beijo querida!

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