segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

O jejum na quaresma



Desde muito pequena, quando comecei a frequentar a igreja e ouvir os sermões, me ensinaram que é importante o jejum. Jejuar na quaresma.
Sei que muita coisa mudou - particularmente eu - desde aqueles tempos, e que o jejum já não tem o mesmo peso na quaresma.
Conheço pessoas que ainda praticam esse costume.  Algumas aproveitam para perder peso, deixam de tomar cerveja e outras bebidas alcoólicas nos quarenta dias que precedem a Páscoa. Outros abstem-se de comer carnes e derivados para provocarem uma desintoxicação.
Tudo é válido dentro do contexto dessas pessoas, e nem vou discutir isso.
Apenas lembrei-me hoje de uns versos que li, há alguns anos, falando sobre jejuns. Não recordo na totalidade, portanto, vou postar a minha opinião sobre os jejuns, inspirada naquelas lembranças.

Sugiro que voce jejue de palavras que magoam, que ferem, afinal isso não é amar.
E que voce jejue de ofensas ou injurias, porque não é assim que conseguirá vencer.
Jejue também de pessimismo porque a esperança é que traz a alegria de viver.
Porque não jejuar de preocupações? elas só te trazem azia e noites mal dormidas.
Que tal jejuar de lamurias e reclamações? isso deixa voce com uma péssima aparência.
Vamos também jejuar de tristezas, elas não conduzem a lugar algum, apenas dão olheiras.
Ah! quanta alegria em jejuar de egoismos! fazer alguém feliz é a mais nobre missão.
E jejuar de rancores? esquece-los, perdoa-los, desintoxicar-se por completo de coisas más.
E por fim jejue de palavras. Fale sim, mas viva o silêncio também, para ouvir os outros e com isso dar-lhes o brilho de seu olhar amigo.

Viver a quaresma com amor, é essa minha proposta.
Vamos nessa? . . .

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Um anjo




Já se passaram muitos anos desde que carreguei comigo uma saudade dolorosa de um ser que nem mesmo conheci o rosto. 
Penso que gerei um anjo, a pedido dos céus,  e entreguei-o aos sete meses de gestação... prontinha.
Lembro-me de ter ficado muito infeliz.  Mas acredito agora que os anjos são feitos assim, através de mães jovens e sonhadoras,  escolhidas para enviar ao Pai os anjos que eles necessitam por lá.

Algum tempo depois o primeiro bebê que me colocaram nos seios foi Larissa, minha filha mais velha. Morena, olhos grandes e escuros, curiosos.
Quantos sonhos e planos fizemos para ela! Foi tão esperada, tão bem recebida e mimada que ainda hoje adora confetes e aplausos quando abrem-se as cortinas.
O segundo filho foi o Junior. Parto complicado. Nosso menino quase não sobrevive, teve que sofrer e lutar muito para ver a luz.  Mas essa luz até hoje brilha em seu caminho. Precisava viver... e agora ele nos mostra porque. Cabelos cacheados e sorriso de menino, sempre menino.
A terceira, tempos depois, foi Juliana.  Pele clara, boca muito pequena em contraste com os olhos enormes.
Temperamento questionador, impunha sempre a sua vontade,  para desespero dos irmãos.  Mãos de artesã, herança das tias portuguesas.

Se colaborei com os céus, enviando um anjo cor-de-rosa para brincar em suas nuvens, fui recompensada com filhos queridos e netos perfeitos e saudáveis.

Portanto, sempre que alguém pergunta de onde vem minha alegria e meu entusiasmo, penso neles.
É nessa familia que busco energia e amor.

E você, onde busca?

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

O armazém



Era o armazém mais bem equipado da cidade. Ficava na rua principal, que começava na estação de trem e subia, grande, uns dois quilômetros, até a Igreja Matriz de Santo Antonio.
Em linha reta, subindo, de qualquer lugar que alguém estivesse poderia ver  lá no alto a Igreja bonita, com o prédio do seminário se exibindo ao lado.
Essa era a rua Antonio Agú, em Osasco, nos meus anos de menina. E lá se vão tantos anos!
Voltando ao armazém, lembrei-me dele ontem ao ver uma foto na internet. Essa que postei acima.
A mesma impressão de desordem, as mercadorias espalhadas pelo chão, o longo balcão onde eram empacotadas as compras.
Atrás do balcão uma prateleira grande, até o teto, onde ficavam as latarias, as velas, fósforos, latas de biscoitos, macarrão e assim por diante...
Pelo chão as sacarias de batata, cebola, arroz, feijão, açúcar, trigo, farinha de milho, e nem me lembro o que mais.
O óleo ficava em um tambor, com uma espécie de bomba manual,  que com um simples movimento do braço enchia um litro, ou uma lata grande.
Caixas de bacalhau, peixe do tipo manjuba muito salgado, goiabada, carne seca, ficavam espalhadas pelo armazém, deixando no ambiente um perfume inesquecível,  delicioso.
Juntavam-se aos aromas os salames e linguiças secas caindo  do teto, de inúmeras cores.
Bem ao lado da porta um rolo enorme de fumo de corda, que era vendido aos pedaços para que os fumantes fizessem seus cigarros fedorentos.
O dono era o  sr. Luiz, um japonês falante  que tinha sempre um sorriso no rosto redondo,  deixou em mim uma lembrança adorável de pessoa calma e feliz. Sua mulher, Ana,  perguntava de minha mãe, desejava melhoras, preocupava-se em me ver atravessar a rua com a sacola cheia e pesada.
E eu menina, ia encurvada com o peso da sacola de lona, levando para casa a mercadoria que minha mãe havia escrito na listinha.  Nunca deixei a mercearia sem um doce para ir comendo no caminho. Eram pés-de-moleque, doce de abóbora, de batata-doce ou doce-de-leite.
Ana nunca me deixou ir sem antes colocar um doce em minha mão.
E eu ia com a grande sacola pesada,  mas a alma alegre porque na inocência de minha meninice  ainda não tinha percebido o grande drama que estava sendo preparado.
Saudade da Ana e do Luiz,  do armazém e também do perfume que tinha lá dentro. Era o cheiro da fartura, do queijo meia-cura, do pó de café moído na hora.
Que delicia de saudade. Voltei a encontra-los varias vezes depois que fiquei adulta, eles já velhos, aposentados.
Sei que já não estão entre nós, mas a recordação do Luiz anotando as compras na cadernetinha em seu balcão, ajeitando tudo bem arrumadinho na sacola, preocupado se não estaria muito pesado para mim...
isso nunca esquecerei.  Para uma criança um sorriso é um presente inesquecível.
Opa, me deu vontade de comer um pé-de-moleque. Quem me acompanha?


segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

à beira-mar





Quando o calor convida para um passeio, uma voltinha à tarde, na hora da fresca, sinto vontade de morar á beira-mar.
Pode ser que nem todos concordem, mas dificilmente uma caminhada é mais prazerosa do que na areia, descalça, deixando o finzinho da onda lamber seus pés.
Nesse último passeio á Ilha aproveitamos apenas um fim de tarde assim. Chovia, mas como estava calor, eu e minha mana resolvemos caminhar sob a garoa.
Chinelos nas mãos, muita vontade de andar e uma sacola de assuntos para desfiar. Só voltamos para a pousada quando a noite nos surpreendeu, quente e úmida, chuvosa, estávamos ensopadas mas com a garganta seca de tanto falar rsrsrs
Uma parada no supermercado da esquina para comprar umas latinhas de cerveja geladinha foi um sacrificio enorme...beber a cerveja depois do banho foi  quase insuportável.
Mas fizemos um tremendo esfôrço e conseguimos.  Conversar, rir e tomar cerveja em uma noite chuvosa na praia. Será que aguentariamos tanto sofrimento?
Eliana me liga sempre, pergunta: -quando vamos novamente?
Nem sei se quero repetir essa aventura. Foi muito divertido, os passeios pela ilha e nossa esticada até a Juréia foram uma delicia para os olhos e o paladar, mas...como é dificil voltar.
E nesses dias, como hoje, quando um calor insuportável teima em entrar pelas janelas e me incomodar, penso se gostaria de dar uma voltinha na beira da praia, com aquela garoa bendita batendo em meu rosto.
O que responder para a mana?
Ah! Eliana, é bem melhor ficar por aqui mesmo, sentir o suor escorrendo pelas costas, sem vontade sequer de cuidar da casa ou fazer uma refeição.
Não vamos repetir essa loucura,  para que? depois resta-me ficar aqui,  olhando pela sacada esse sol inclemente, essa brisa inexistente, esse inferno todo,  e morrendo de saudades... (não é Chica?)
Não querida, não vamos voltar tão já...é muito ruim sair de lá. Deixa assim como está. Quem sabe um dia vou com a mudança toda,  passarinhos, panelas e travesseiros?
Você iria morar à beira-mar?