quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Que pena!

 
A mãe contava sempre que ele nasceu ao meio-dia de um domingo, era carnaval.
Chovia muito, e ela havia passado a noite sofrendo as dores e ouvindo os sons que vinham do salão do clube, um quarteirão acima.
Seria esse o motivo de sua antipatia por carnaval? Ou melhor, seria  o motivo  por gostar tanto de  músicas?
Nascer em um domingo de carnaval, ao meio-dia,  tem muitos significados, imagino eu.
Todos dormiam, cansados, alguns com os cabelos salpicados de confetes, lençois cheirando a lança-perfume.
A chuva gostosa batendo nos telhados de barro das casas bonitas, vila operária em uma cidade do interior.
Casas de tijolinho aparente, trepadeiras nos terraços, pés de manga e abacate no quintal, galinhas procurando um cantinho para se esconder com seus filhotes das gotas de água que não paravam de cair.
Era a casa da "mama", vó materna carinhosa e que jamais aceitaria um parto de suas filhas a um metro de seus braços. A mama que eu conheci e sei que já estava com a canja de galinha preparada no fogão a lenha,  para fortalecer a filha.
Domingo de carnaval, som de chuva, cheiro de terra molhada, terra em repouso, recuperando-se do calor e do barulho dos palhaços e colombinas alegres e despreocupados.
E nesse clima ameno, silencioso, eu diria até poético diante do quadro que pintei em minha retina, nasceu o menino chorão,  como se gritasse "cheguei!".
Acredito mesmo que veio ao mundo para acrescentar, para fazer diferença, não para ser mais um.
Pai de meus filhos, meu saudoso marido faria aniversário nesse sábado, dia 28.
Gosto de pensar nele, lembrar historias dele, sentir saudade.  Que pena!