quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Explique . . .


Quando era bem menina, uns sete ou oito anos, estava na casa de minha avó Margarida, mãe de minha mãe, e guardava algumas roupas no armário do quarto.
Minha avó, mulher que exalava autoridade, e mau-humor, disse-me de sopetão: -"guardando roupas pelo avesso? arrume já ou espera para ver o que vai acontecer!"
Entendi que alguma coisa muito ruim aconteceria. O que seria? algo demoníaco? um castigo dos céus?
Então. . . na minha inocência de criança perguntei:- "mas o que vai acontecer?".
E ela, na sua ignorância de mulher mal resolvida respondeu: "deixe a roupa pelo avesso que você vai ver, já...já!"

Depois de muitos anos fui entender que tratava-se de uma ameaça. Uma maneira covarde de me forçar a dobrar as roupas do lado certo.
Porque não esqueço esse diálogo? Sempre me vinha à cabeça quando percebia que meus filhos não entendiam um comentário, ou uma pergunta.
E hoje também percebo nos olhos inocentes de meus netos o quanto é dificil aceitar a lógica dos adultos.

Devemos tomar cuidado ao tentar passar para as crianças os ensinamentos mais elementares.
Em suas cabeças ainda tão inocentes não há espaço para ironias ou ameaças veladas, que acabam deixando-as mais confusas, como aconteceu comigo.

Sei que quando precisamos fazer-nos entender - e não é fácil - devemos sentar, olhar nos olhos, falar pausadamente e com palavras bem simples. E sempre a verdade.
Não deixar margens para dúvidas. Não permitir que mais tarde lembrem-se de nós como pessoas rabugentas e infelizes.

A palavra tem um poder mágico. Ela tanto ensina quanto destrói. Vamos usa-la para plantar amor e conhecimento.
Obvio que não foi apenas essa frase que ouvi de minha avó.  Mas lembro-me tão nitidamente que fiquei a esperar o castigo, preocupada. E vovó vivia dizendo:-

- por que você deve ir? porque sim e pronto, e cala a boca!
- machucou? bem feito, assim aprende! (aprende o que?)
- tem que lavar a louça, não lave pra ver! (ver o que?)

Tudo ficava sem resposta, muito vago, muito esquisito.
Claro que vivi com mais pessoas, alguns até mais ignorantes que vovó, mas então já era mais velha e entendia que com adultos não adianta discutir, nem fazer perguntas. A maioria deles não ouve crianças...

Pobres crianças, precisam apenas de alguém que  pegue suas mãos, fale sua linguagem, olhe em seus olhos com carinho.

Vovó não era um monstro, mas também não era carinhosa. Hoje entendo que era sofrida e infeliz, mas não consigo perdoar aquela amargura toda despejada em cima de nós.
Perdão vovó, mesmo assim sinto saudades de sua polenta com almeirão e queijo.
Falar em queijo...um beijo!

sábado, 24 de setembro de 2011

Amigos



Hoje lembrei-me de um poema de Jorge Luiz Borges que começa assim:

        Não posso dar-te soluções
        para todos os problemas da vida
        nem tenho resposta
        para tuas dúvidas e temores
        mas posso escutar-se
        e compartilhar contigo . . .


Amigos para mim são tão especiais, que acredito mesmo que são presentes. Amigo a gente não escolhe, a gente sente.
Tenho poucos,  alguns muito antigos e outros tão recentes.  Uns vejo sempre, outros não vejo fazem tantos anos,  e ultimamente tenho amigos que nunca vi.
Essa nossa troca de carinho aqui no blog me proporcionou amigos virtuais, tão queridos e tão próximos, que parecemos amigos de infância.
Incrível como em um teclado frio e negro passamos emoção, sentimos os temores e as alegrias.
A sensação é de extremo companheirismo.

Somos todos corujões uns dos outros, atentos e aguardando sempre uma palavra, um estímulo.


Amizade é isso, estar ligado, pronto para estender os braços e dar confôrto, ou aplaudir, ou apenas acenar sorrindo.  Eu estou aqui, ligada... de olho em vocês. Beijo


      

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Nosso Biriba!


Ele é mesmo lindo assim, o nosso Biriba.
Tem cara de gente boa, olhar de apaixonado,  um grande companheiro.
Lá se vão 15 anos daquele sábado em que sua mãe encontrou nossa garage aberta, enrolou-se para descansar e acabou ficando para sempre. O domingo seria dia das mães e acordamos com uma linda ninhada de onze cachorrinhos, entre eles nosso lindão aí de cima.
Absolutamente vira-latas! A mãe totalmente branca, porte médio. O pai? acho que nem ela sabia.
Ficamos enlouquecidos com os filhotes. Todos saudáveis, lindos, cada um de uma cor, um tipo de orelha, uma mancha diferente. Demos nomes a todos e fomos cuidando para que ficassem fortes.
Biriba era entre todos o mais esperto, o que mais bebia o leite, o que brigava com os irmãos pela teta da mãe... enfim, um lider nato.
Com muitas lágrimas (muitas!) fomos doando a pessoas amigas os irmãos de Biriba, sempre preocupados em saber se iriam cuidar e amar nossos bebês.  Ficaram em casa ele e a mãe que começamos a chamar de "Tramela".
Não sabíamos sua idade, mas acredito que Tramela já não era tão jovem. Ficou conosco até seus ultimos dias, morreu em 2006, quando Biriba já estava com  nove anos.
Com a morte de meu marido mudei-me para um apartamento pequeno e o nosso fofão foi morar com minha filha, quintal enorme, ruas tranquilas, tudo o que ele mais gosta, e mereçe.
Aos quinze anos já está velhinho. Meio surdo (muito surdo!) andando devagar, pernas traseiras querendo endurecer, mas sempre procurando um carinho, deitando perto das crianças,  encostando na perna da gente...
Me comove vê-lo envelhecido, mas o tempo é implacável com todos, não seria com ele?
Amamos esse cachorro de maneira incondicional, como só quem ama os animais pode entender.
Seus olhos dizem tudo o que preciso ouvir dele. E ele sabe que é querido, todo cheio de dengos, de manias.


Essa simples homenagem ao Biriba faz parte do meu "projeto retôrno". Vou voltando aos poucos, ainda com alguma dificuldade, mas voltando.

Biriba, você é demais amigão!

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Amarelinha



Um dia desses recebi um questionario enviado pela escola da Larinha, minha neta de 2 anos. Perguntava: qual a brincadeira que você mais gostava quando criança?
Imediatamente respondi que foi a Amarelinha.  Muitos de vocês também hão de se lembrar. E sentir saudade.
As brincadeiras de rua são as que mais deixaram saudade. 
E era interessante . . .para cada brincadeira havia uma temporada! Tanto meninas quanto meninos brincavam juntos, de roda ou de pião. De pular corda ou de jogar a bola. De amarelinha ou de cinco marias.
De soltar pipa ou de cabra cega. De esconde-esconde ou de pega-pega.

Quando as noites eram quentes as mães permitiam que ficássemos até mais tarde,  o que proporcionava a elas também a oportunidade de sentarem-se ao portão,  prosearem, descansar da lida.


Coisa boa recordar esse tempo.  Uma época em que a grande preocupação era o nosso campeonato de cinco marias, ou de amarelinha.
Quem ganhará? Não haviam premios, apenas a alegria de vencer, ou o amargo da derrota, que sempre valeu para nos ensinar que não só de vencedores era feita a vida.
Sem saber estávamos tendo a lição de como viver em comunidade,  respeitar os direitos do próximo e  aprender com a derrota.

Porque nunca nos lembramos de determinada aula de ciências, ou  daquele livro de gramática, ou de matemática, mas jamais nos esquecemos das brincadeiras de infância?  Será que é porque com elas aprendemos muitas liçoes que nos serviriam pela vida a fora? e aprendemos com alegria e descontração?

As cantigas de roda -  hoje tão criticadas pelos intelectuais e estudiosos de comportamento infantil - não formou  delinquentes nem marginais viciados em drogas.
Formou sim,  mães e pais amorosos e avós que hoje olham com preocupação para essa geração que não pode cantar "atirei o pau no gato" - por ser agressivo - ou  ler na íntegra as historias que nos encantavam.

Criança feliz é a que canta, brinca, ri muito, corre e se suja.
Criança feliz não tem medo, sente-se protegida e amada. 
E o adulto feliz é aquele que sente saudade de sua infância. Ele sabe que não voltará mais, mas sabe também que pode fechar os olhos e ir até lá, resgatar em sua memória o som das gargalhadas e dos gritos de:
peguei! agora é sua vez! passa o anel! bati! 
E o som da corda batendo no chão de terra, e as vozes altas e felizes cantando na roda. . . 


quarta-feira, 7 de setembro de 2011

A bolsa . . .

Nunca fui vaidosa, dessas vaidades de me enfeitar muito, me pintar muito, fazer unhas e cabelos semanalmente, e assim por diante.
Sempre me pergunto se não deveria ser mais preocupada com a apresentação, combinação de cores, qual sapato fica bem?
As roupas, a grande maioria, são presentes das meninas ou mesmo algumas peças que elas já não querem mais.
Fico feliz em usa-las, gosto mesmo de roupas já meio usadas, amaciadas, e que são muito confortáveis.
Garanto que se os comerciantes de moda feminina dependessem de mim, estariam fritos.
Bolsas então, acredito que nunca comprei uma sequer. Se as tenho é porque me foram presenteadas pelas filhas, ou esquecidas aqui em casa por elas mesmas, e eu vou usando.
E é exatamente sobre essas nossas simpáticas auxiliares que vou falar. Uma bolsa bonita transforma o visual, isso toda mulher sabe. Bolsas grandes e coloridas são práticas e nos deixam com aparência jovem, descontraída.
Bolsas pequenas e de material nobre, são elegantes e valorizam as roupas e o sapato.


Mas não tenho usado nem uma, nem outra. Minha companheira por esses duros dias que ando vivendo é esse bolsa:

Sim! a bolsa térmica, de agua quente, para dar uma trégua nas dores de coluna que me atormentam.
E a minha bolsinha térmica é exatamente dessa cor aí em cima, e tem sido uma ótima aliada nas noites de desconforto.
Pois é amigos, encontrei uma maneira divertida de contar para vocês porque ando meio sumidinha.
Não consigo ficar sentada ao computador,  mas acredito que logo poderei retomar minhas visitas e minhas postagens. Deixo aqui algumas sugestões para as amigas artesãs, algo que ultimamente tenho visto como necessidade, não vaidade:-


Olhem só ... Bela, Cris, Rosana, Eneida, Jaqueline, e todas as queridas "mãos de fada" que me visitam!
São capinhas para bolsas térmicas, fáceis de fazer e que devem trazer conforto e bem estar para o usuário.
Gostaram não é? fica aí a sugestão para as próximas feituras em tecidinhos coloridos e alegres...rsrsrs

Beijos para todos, até breve!

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Uma caixinha no armário

Buscar coisas no passado para poder sorrir agora, isso eu adoro!   Dia desses lembrei-me de um pacote guardado no armário do quarto. Um canto quase esquecido, um tesouro que não tem preço.
Minha mãe guardou com muito carinho nossas roupas de batismo.  A minha e a do Edison estão comigo. 
Fazem 63 anos que fui batizada. O Edison 60 anos.
Penso que a roupinha dos gêmeos não teve o mesmo destino, foi muito usada por ser de lã, e logo depois minha mãe adoeceu. 
Lá está a caixa, com duas camisolinhas caprichosamente dobradas.  São tão delicadas, tenho medo que rasguem em minhas mãos. Amareladas e manchadas por conta do tempo...implacável com tudo!
Os detalhes são encantadores. Muitos bordadinhos à mão, rendinhas aplicadas com pontos pequeninos, fitinhas transformadas em flores tão delicadas. Como é possível tanta graça,  já fazem tantos anos!
Fico a imaginar minha mãe,  de uma simplicidade tão grande,  fazendo milagres para que seus filhos ficassem bonitos.
Claro que vou mostrar algumas fotos das roupinhas, mas primeiro uma especial: - eu aos 4 anos e o Edison com 1 ano. Dá uma olhada!

Esse vestido era todo bordado em ponto cruz no barrado, com patinhos de vários tamanhos. A calça do Edison, se vocês notarem bem, estão mais escuras nos fundilhos. Ele tinha feito xixi!!!
Quem contava isso era minha mãe, e algumas coisas a gente nunca esquece. Vamos às camisolas.
Primeiro a minha, a mais velhinha...









Agora a do Edison, mais bonita, na minha opinião:










Quando digo que são encantadoras,  sei que é porque  as vejo com imenso carinho. 
Penso em minha mãe preocupada com os mínimos detalhes, nos enfeitando para o grande dia.
Me emociono ao pensar no quanto éramos pobres e no quanto deve ter sido dificil para ela preparar nossas roupinhas.
Valeu mamãe! você plantou em nós a semente do carinho,  do amor à familia, e de valores tão importantes como dignidade e honra. Passamos isso aos nossos filhos com o mesmo olhar que você tinha.
Agora uma foto recente dos dois anjinhos da mamãe, um pouco mais amadurecidos.





Que dupla!