segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

O silêncio de um artista


Já estava com saudades. Andei um tanto desanimada, com um velho problema no coxi, que eventualmente me castiga. Outro dia uma amiga me perguntou porque eu tinha o coxi fraturado (eu não sei porque), e eu para brincar respondi: - sei lá, deve ser um pé-na-bunda que eu levei de meu primeiro namorado!".
Ela riu muito, e eu também, mas esse tipo de pé-na-bunda não deixa fraturas, deixa cicatrizes.
Qualquer dia falaremos dele, se é que vale a pena.
Vamos ao assunto de hoje. Lembro-me que quando começei a ler a biografia de meu querido Gabriel Garcia Marquez, comprometi-me a contar para vocês alguns lances interessantes. Vou falar sério:- não dá para separar alguns momentos.
A solução é vocês lerem o livro e se apaixonarem por esse verdadeiro gênio da literatura sul-americana.
Mas para entender é necessário ler Gabriel, curtir seus romances, viajar em sua loucura, e depois então compreender sua literatura incrível através de sua biografia.
O título - Uma Vida -  já mostra que você vai mergulhar  na historia fascinante das cidades de sua querida Colômbia, onde ele nasceu, trabalhou como jornalista, resolveu ganhar o mundo através de reportagens maravilhosas pela Europa, amou, meteu-se em política até o gargalo, isolou-se na Espanha, fixou-se no Mexico. Enfim, não dá para resumir aqui nessas poucas linhas, nem em dias, nem em meses,  a trajetoria de uma pessoa como ele.
Seu biógrafo, o inglês Gerald Martin, dedicou 17 anos de sua vida ao livro. Encontrou-se com Gabo diversas vezes, entrevistou centenas de pessoas entre amigos, parentes e ex colegas de trabalho da época em que ele era jornalista.  Visitou toda a América Latina em busca de fotos e reportagens sobre seu biografado.
Autor apaixonado pela escrita de Gabo, só poderia escrever um livro impressionante sobre sua historia nada comum.
Para mim, fã assumida, foi extremamente prazeroso conhecer mais sobre meu escritor favorito. Sua mágica e sua genial facilidade em transportar pessoas para seu mundo imaginário, ficam bem explicadas na análise profunda de Gerald Martin.    
Só não esperava o desfêcho. Para mim, que fiquei muito satisfeita quando soube de sua cura, no inicio dos anos 2000, de um câncer linfático, foi um golpe tremendo ler nas ultimas linhas do livro que ele encontra-se recolhido no México, em casa, aparentemente com mal de Alzheimer.
O homem que viveu para contar suas historias e  lembranças encontra-se doente, perdendo gradativamente a memoria, silencioso em seu lar no México.
E todos nós que o amamos nada podemos fazer para ajudar, senão contar para quem quiser ouvir, que houve alguém muito marcante, muito celebrado e respeitado, que hoje vive na solidão da ausência de saudade...de recordações.
Essa vida não é justa...



imagens google

domingo, 23 de janeiro de 2011

Sob os eucaliptos...





Minhas lembranças não se confundem com minhas fantasias. Eu as tenho muito claras em minha mente e gosto muito de contá-las.
Quando eu e meu irmão um pouco mais novo, Edison, deixávamos nossa casa para levar o almôço para meu pai, ainda tínhamos uma hora para chegarmos até a fábrica.
Os dois meninos gemeos, menores, ficavam com uma vizinha, mulher abençoada, que tinha várias crianças e nos ajudava muito ficando com eles.
Eu havia preparado a comida - imagine só aos dez anos que comida eu fazia - e colocado em uma marmita grande, que era embulhada em um pano e depois colocada em uma sacolinha de alça.
A fábrica era longe e papai nos deixava uns trocados para irmos de ônibus. Mas nós sempre íamos, ou voltávamos, a pé, para economizar o dinheiro do transporte. E essa não era uma atitude minha, para guardar dinheiro, mas sim uma vontade de meu irmão que queria comprar bananas em uma barraca próxima à  emprêsa, para que meu pai pudesse come-las depois do almôço.
E eu sempre concordava com ele, para fazê-lo feliz, porque essa era uma de suas alegrias. Comprar bananas para meu pai.
Naquela época as fábricas não dispunham de refeitório e os funcionarios dependiam de familiares que lhes levassem a refeição. Havia uma imensa área de eucaliptos ao lado dos galpões de trabalho, e era lá que papai e outros funcionarios sentavam-se no chão, debaixo das árvores, para comer. Era um lugar agradável e nós crianças gostávamos de sentar e ficar vendo meu pai almoçar. Havia um barracão coberto, com mesas e bancos, mas a maioria dos homens optavam pelas sombras das árvores.
Meu irmão emociona-se quando se lembra que papai comia apenas a metade da marmita e depois dividia o restante em dois, para que pudéssemos comer também com ele. E nós comíamos, enquanto ele abria o pacote de jornal onde estavam as bananas, comia e guardava uma ou duas no bolso para mais tarde.
Isso era motivo de muito orgulho para meu irmão, afinal, em sua inocência de criança, ele estava ajudando meu pai a se alimentar. E hoje eu penso que mesmo que papai não gostasse de bananas ele com certeza as comeria, porque percebia o prazer do filho em fazer algo por ele.
Quando voltávamos para casa levando a marmita vazia, lembro-me perfeitamente daquele menino segurando minha mão e chorando por um bom pedaço do percurso, e eu silenciava. Sabia o motivo da tristeza, um dia ele havia me dito entre lágrimas : - "tata, eu tenho muita pena do papai..."
Meu irmão continua o mesmo chorão,  andando a pé e comprando bananas para agradar alguém. Ele sabe do que falo. Seu coração continua menino, brincando entre as árvores e folhas do bosque de eucaliptos.
Hoje meu brinde vai para ele e só poderia ser com cerveja bem gelada, trincando.
Obrigada garoto, valeu! Tim...tim!


quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

O galão...



Hoje vou  escrever sobre uma experiência divertida que jamais havia vivido. Como estou tendo alguns probleminhas de saúde, minha médica pediu vários exames de laboratório. Antes alertou-me - vá até o laboratório para pegar uns frascos para exame de urina.
Lá fui eu, obediente que sou, pegar meu frasco. Quando estendi o papel para a moça do balcão ela me devolveu  um "galão" de dois litros e meio, de plástico transparente e tampa amarela. O tal galão tinha até uma alça, como aqueles que a gente compra cheios de agua sanitária.
Então veio a explicação:- a senhora deve colher todo o xixi que fizer em vinte e quatro horas, sempre dentro do recipiente (rsrsrsrsr) e depois traze-lo para análise. E tem outro detalhe, deve guardar o recipiente (rsrsrsrrs) sempre na geladeira (hugrrrf!).
Nem tentem imaginar a maratona que foi isso. Optei por fazer xixi já no box, com o chuveirinho aberto, para poder lavar as pernas e o tal galão depois de fechado.  O gargalo do garrafão não é muito grande e eu, lógico, fazia o xixi em pé, com cuidado para não desperdiçar - mesmo porque uma preocupação já estava tomando conta de mim: será que alguém enche o galão?
Quando já estava completando as horas necessárias passei a tomar mais água - loucura! - pois nem tinha preenchido um terço do recipiente (rsrsrsrs).
Acreditava que quando chegasse ao laboratório e a moça do balcão visse a quantia de material que eu havia colhido, certamente riria de mim, comentando com as colegas de trabalho: - olha só que pouquinho, ela faz o tipo enxuta!
Muito bem, apesar dos sobressaltos de ter que sair correndo do banheiro porque havia esquecido meu colega na geladeira, e da insatisfação ao ve-lo na porta do refrigerador cada vez que ia procurar um suco, ou a manteiga para o café, finalmente chegou a hora da despedida.
Bem cedo levei-o embora, acomodado em uma sacolinha linda de flores marrons, à tiracolo, como que para disfarçar a carga estranha que trazia nos ombros. Entreguei a sacolinha para a moça, fiz uma piadinha - que ela deve ouvir todo dia - dizendo que seu presente estava bem geladinho, e saí o mais rápido possível do predio.
Queria dividir com vocês essa experiência divertida e contar que nada é mais agradável do que fazer xixi no lugar onde deve ser feito, sentadinha e confortável.
Sei que vocês gostariam de saber se alguém enche o galão. Eu também! qualquer dia pergunto lá no laboratório. Se alguém souber me conta, afinal, eu contei tudo pra vocês.
beijos!

domingo, 16 de janeiro de 2011

Em janeiro



Ritmo de férias, descansando um pouco, muita preguiça. Apesar de toda essa gostosura que é acordar um pouquinho mais tarde e não ter compromissos com horários certos, essa inquietação não me dá tregua.
Janeiro é um mês muito estranho, e essa chuvarada só faz aumentar a angústia e o desconforto.
Para completar o quadro cinzento lá vem essas enchentes e desmoronamentos que ficam pipocando na televisão me informando a toda hora o número de mortos, feridos, desabrigados, desesperados...
É muito dificil não se deixar emocionar diante de tanta dor. Choro mesmo diante da televisão e não consigo entender porque crianças, velhos e jovens morrem de maneira tão brutal, tão inesperada.
Essa sempre foi a grande dificuldade de minha vida. Tenho uma enorme lista de perguntas sem respostas, que me deixam à margem do caminho daquelas pessoas que aceitam tudo, levantam as mãos e dizem "fazer o que"?
Não consigo - simplesmente não consigo - ser uma pessoa conformada, que aceita tudo mansamente, como o gado que é levado para o abatedouro, cabeça baixa.
Queria muito saber qual o critério, como são escolhidos quem vai morrer soterrado, quem vai morrer nas mãos de um assassino, qual criança vai ser estuprada - talvez morta - e por aí vai...
Costumo dizer que nesse mundo tem tanta gente que só está por aqui fazendo peso - explico: os estrupadores, os pedófilos, os traficantes (de olho em nossos jovens) e uma gama enorme de loucos psicopatas, paranoicos, viciados, que só fazem mal aos outros.
Então pergunto novamente: qual será o critério? porque não eles estão lá embaixo da lama e de pedras.
Nunca vou entender, mas também nunca vou deixar de questionar. E muito menos vou aceitar passivamente, sem sofrimento, a perda de pessoas inocentes e boas.
Agora voltemos a janeiro.


Estou aqui em casa escrevendo essas linhas e quem me conhece e participa de minha vida intimamente, sabe que nesse mês havia festa e alegria, hoje não mais.
Repito que não sou triste, aliás, não somos tristes, eu e minha familia, porém não somos tolos ao ponto de não sentir saudade, não recordar.
O que me consola e me embala nas horas de saudade são as lembranças lindas, as festas alegres, os abraços carinhosos. Chego a sentir o calor dos abraços, ouço nossas vozes cantando os votos de felicidade.
Duas pessoas muito amadas e lindas fariam aniversario nesse chuvoso mês de janeiro. A coincidência incrível é que no mesmo dia. E ambas já nos deixaram. Ela tão jovem e linda e ele não tão jovem mas lindo também.
Como eram alegres e otimistas, acredito que não haverá melhor maneira de comemorar do que com um brinde em taças de cristal, vinho branco bem gelado, música alegre no rádio...
O dia do aniversario não é hoje, mas o assunto veio chegando e não pude deixar de mencionar. Talvez no dia 28 não tenha coragem, nem ânimo.
Somos felizes por nossa saúde e por essa oportunidade de levantar um brinde de parabéns  - mas - tudo seria muito melhor se não fosse essa imensa saudade...


Tim ... tim !!!

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

um encanto!

Quero compartilhar com todos um lugar que já conhecia e visitei novamente na semana passada.  Sempre fui apaixonada pelo mar, e sinto-me muito bem estando próxima de praias. É uma coisa física, uma sensação de que meu corpo agradeçe pela agua morna, a areia nos pés, a sombra boa de uma árvore.
Aliás, sombra boa de árvore na praia você só encontra mesmo em Ubatuba, maravilhoso lugar onde meu irmão tem uma casa e onde pudemos passar uns dias deliciosos conhecendo recantos lindos.
Não estou muito inspirada para escrever, mas vou postar umas fotos de um lugar chamado "Picinguaba".
Alguns devem conhecer, mas para quem não sabe, Picinguaba fica a uma distância pequena de Paraty, depois da praia de Almada.
Trata-se de um núcleo de pescadores, praia pequena, casas simples e uma igreja depois de um lançe de escada.
Alguns bares para matar a sede e pedras na praia, mais nada...


uma paisagem de tirar o fôlego, linda!

repare na cor das águas...
olha só o colorido das pedras, parecem desenhadas não?
sobre a pedra descansa um pássaro. Um albatroz? ou uma gaivota? confesso que não sei.
Tenho ou não razão? isso é um sonho...
tenho muitas outras fotos, da vila de pescadores e algumas casinhas. Vou postando devagar para que todos possam curtir essa maravilha de lugar. Foram poucos dias, mas só para olhar isso tudo já valeu a pena.
Amo Picinguaba e vou voltar um dia para tomar cerveja sentada de frente ao mar, jogando conversa fora.
Conhecer esse lugar é como ganhar um presente da natureza, embrulhado em papel azul de vários tons, misturando água e céu, um encanto!

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

que dia é hoje?




Muito bem, o ano novo sempre me leva a uma estrada nova, que nunca vi. Ela sempre é de terra (verdade!), é sinuosa, mas bonita e bem iluminada. Sempre que estou começando um novo ano é essa a imagem que me vem à cabeça. Uma estrada nova, um caminho por onde nunca pisei, mas que é muito atraente. Pois então que seja assim, que bons ventos soprem sobre as árvores, mas que não levantem poeira para turvar a vista. No final do ano que acabou estava  me preparando para escrever sobre um casal de sobrinhos que fazem aniversario hoje. São gemeos sim, um menino e uma menina. Nath e Leo. (Nath é mesmo com "th"?) Minha irmã, Eliana  - ela mesma, a louquinha que sempre deixa recados sem nexo - nunca conseguiu engravidar, e eu sei porque. Ela conta que os médicos dizem isso e aquilo, mas não é nada disso. Eu sei que ela nunca ficou grávida porque precisava se preparar emocionalmente, fazer por merecer, desejar e sonhar com os filhos que viriam já feitos, prontos para o seu amor. Essas duas crianças chegaram até ela e meu cunhado como um milagre, um presente. Obviamente não vou ficar aqui dando detalhes dessa mágica, mesmo porque não sei todos, apenas sei que tinham pouco mais de um ano, eram lindos, tímidos, um encostadinho no outro como que se protegendo mutuamente. Um delicia para se olhar, sem cansar
Como isso pode ser possível? Nathalia morena, pequena. cabelos pretos, como minha irmã. Leonardo louro, pele clara, como meu cunhado descendente de poloneses. Parecem filhos naturais. Aliás, minha irmã quando questionada pelas crianças sobre o nascimento deles, não querendo mentir, dizia para eles:- "vocês são meus filhos. A mamãe apenas não podia gerar, então papai do céu colocou as sementinhas em outra pessoa para gerar pra mim, mas vocês são meus". Sempre me emociono com essa explicação, tão simples mas tão cheia de amor.
Não, eles não foram gerados em barriga de aluguel. Houve realmente um milagre de doação, e minha irmã estava na hora certa, no lugar certo. Simples assim...
Serem pais de duas crianças - de um dia para outro -  não é tarefa fácil, convenhamos, e eu admiro a garra e a coragem desses dois queridos que mergulharam de cabeça nesse grande desafio.
Meu pai e minha madrasta se envolveram nessa jornada maluca e num piscar de olhos as crianças já estavam inseridas na familia.
Nunca vou esquecer a primeira visita deles em minha casa. Quando a porta do carro se abriu e eu vi aqueles pares de olhos assustados olhando nos meus, não pude acreditar que já estava apaixonada também.
Hoje é aniversario deles e não quero cometer uma gafe perguntando antes da postagem se são realmente 21 anos. Mas acredito que sim. Vinte e um anos! Lindos e carinhosos, bons filhos e companheiros.
A historia deles é incrivel, mas o que mais me surpreende é a capacidade do ser humano em amar incondicionalmente. Não se estipulam condições ou critérios, você olha, envolve e ama. E eles são muito queridos por todos nós dessa familia maluca. Pelos pais então...vou deixar esse comentário para a minha irmã sem nexo e sem papas na lingua...
Vou levantar um brinde a esse lindo par de jovens que veio enfeitar ainda mais nossa familia e alegrar o coração de minha irmã maluquinha. Parabéns pelo aniversario moçada, que a vida continue sendo justa e boa com vocês, que seus caminhos sejam sempre alegres e prósperos e que vocês continuem dando alegrias a esses pais que te amam muito! Tim-tim, viva!

imagens: google